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Brasil avança na construção do submarino nuclear com montagem do protótipo do reator

Brasil avança na construção do submarino nuclear com montagem do protótipo do reator

A Marinha do Brasil avança na concretização de um de seus maiores projetos estratégicos: a construção de um submarino movido a energia nuclear. No Centro Industrial Nuclear de Aramar (Cina), em Iperó (SP), está em estágio avançado a montagem eletromecânica do bloco 40, que abrigará o protótipo do reator responsável por gerar energia térmica para a propulsão da embarcação. Para os testes, está sendo finalizado um modelo em escala real das seções mediana e traseira do submarino, abarcando os blocos 10 a 40.

O Laboratório de Geração de Energia Nucleoelétrica (Labgene), erguido especialmente para esse propósito, concentra a montagem e validação da planta de propulsão. Inicialmente, a operação será testada com vapor de caldeira convencional, antes de receber o combustível nuclear produzido em Aramar. O reator, do tipo PWR (pressurized water reactor), segue o modelo mais comum em centrais nucleares, também empregado nas usinas brasileiras de Angra 1 e 2.

Segundo o vice-almirante Celso Mizutani Koga, diretor do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP), o ineditismo da empreitada exige testes rigorosos para atender a todos os requisitos de segurança e desempenho, processo que deve levar cerca de três anos antes de o reator começar a produzir energia por fissão nuclear. O desenvolvimento dos componentes do bloco 40 é conduzido pela estatal Nuclebrás Equipamentos Pesados (Nuclep).

O projeto integra o Programa Nuclear da Marinha (PNM) e o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), parceria Brasil–França iniciada em 2008, com orçamento estimado em R$ 40 bilhões. O Prosub já entregou dois submarinos convencionais, Riachuelo e Humaitá, e deve concluir outros dois até 2026. O submarino nuclear, batizado de Álvaro Alberto, será o primeiro construído por um país sem armas nucleares, feito até então restrito a seis nações.

Além de maior velocidade e autonomia, o submarino nuclear pode permanecer longos períodos submerso, reforçando a capacidade de defesa, vigilância e dissuasão do Brasil. Para viabilizar o projeto, o país dominou todo o ciclo do combustível nuclear por meio de tecnologia própria de ultracentrifugação, desenvolvida pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) e pela Marinha. O urânio enriquecido é produzido sob inspeção da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) e atende aos limites estabelecidos pelo Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP).

Graças a essa expertise, o combustível das usinas de Angra é fabricado pela Indústrias Nucleares do Brasil (INB), utilizando ultracentrífugas construídas no país. O domínio dessa tecnologia, mantida sob rigoroso sigilo, coloca o Brasil em posição estratégica no cenário internacional e reforça sua soberania sobre o vasto território marítimo nacional.

Fonte: Revista Pesquisa FAPESP